Decisão

Renuncio de uma vez
à esta meia felicidade
Prefiro a solidão completa
à tristeza pela metade.
Esse pedaço de você
que nunca será minha parte
E que de tanto se dividir
não se completa de verdade.

Inquietação

O tempo não passa, se arrasta
O dia escurece, o ar treme, geme de angústia
O céu mal pode segurar suas lágrimas
As árvores dançam em câmera lenta
Assim como os cabelos...

Ainda me lembro do perfume deles...
E quando fecho os olhos faço o tempo voltar
E estou novamente naquele momento que se tornou eterno
Aquela noite que nunca vai acabar...
Mas então abro os olhos novamente
E aqueles dois olhos me encaram
Procuro neles aquela doçura
Estes são os mesmos olhos?
Seus cabelos ainda tem aquele cheiro?
Porque é que está aqui afinal?

Sim, vejo que os olhos são os mesmos, por mais que tente esconder
Também é o mesmo perfume
Por mais que tente resistir, aqui está você
Me olhando do mesmo jeito
Suspirando pra tentar não falar
Mas não precisamos de palavras
As palavras ferem, as palavras mentem
Tentou esconder-se nelas
Mas não precisou delas pra responder minha pergunta:
O que você quer?

Dois peixes

Não sei o que me aguarda esta noite
Além da insônia, novamente
A esperança e a angústia caminham lado a lado
Separados por palavras não ditas...

Sorrisos e lágrimas
Brotam de uma fonte comum
São três sujeitos na frase
E somente um verbo

Não me lembro da noite estar tão fria
E o sol parece que nunca virá
Na madrugada a realidade vira sonho
Mas não verei teu rosto à luz do dia

O que é a realidade, e o que é sonho?
Como pode me conhecer tão bem?

Porque um peixe tanto se admira com sua própria imagem refletida pela parede do aquário?