quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Angústia

















Ela passou a vida ouvindo que precisava de um homem. Que ela deveria arranjar um bom partido, alguém pra cuidar dela. Que precisava ter um marido e, se desse sorte, pode ser que encontrasse um cara legal.

Talvez isso tenha trazido algum sentimento de revolta. Talvez ela precisasse provar de algum jeito que não precisava de ninguém e que não pertencia a ninguém. Que os homens não eram melhores que ela - mas na verdade eram inferiores. Ou talvez fosse só por diversão.

O caso é que não conseguia ficar com eles por muito tempo. Ela se apaixonava, e parecia que era mesmo de verdade. às vezes era correspondida, tudo dava certo, então namorava. Na maioria das vezes ficava apenas acompanhando de longe o seu objeto de desejo, numa daquelas paixões platônicas.

Independente disso, acabava não durando muito tempo. Chegava sempre o momento em que ela precisava se desapegar. Era algum tipo de inquietação que aparecia; de repente vinha aquele sentimento de cárcere, de angústia, e a necessidade de fugir.

Mas não podia simplesmente desaparecer, até porque isso não adiantaria. Mesmo longe sentiria aquela necessidade quase doentia do outro, e não podia aguentar isso por muito tempo.

Então, normalmente entre seis a oito meses depois do início de uma paixão fervilhante, ela invadia a casa do sujeito durante a noite e o esfaqueava até a morte.







segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Verme

olhos castanhos
olhos de sangue
olhos que sangram
em vez de chorar

a nódoa na pele
qual mancha de tinta
agora só pinta
não vai latejar

o gosto que tem
a carne ainda crua
vazia e tão nua
a me alimentar

as unhas tão sujas
nas pontas dos dedos
tal qual os cabelos
a se rastejar

a boca não grita
tem gosto de morte
e pra sua sorte
não vai mais falar

o corpo não mexe
e o sangue não desce
o tempo se esquece
esvanece no ar

sábado, 6 de outubro de 2012

Embriaguez



















Espíritos jovens, felizes
Elevados pelo álcool
Aquecidos pelo amor
Embalados pela música

A temporada de caça começou
O vinho está servido

A fumaça doce perfuma o ar, que se torna mais leve
Enquanto isso os risos ecoam e as vozes se tornam uma só

Os corpos são tomados pela dança e flutuam em torno uns dos outros, parecem levitar
Os olhos se procuram, se encontram, se distanciam
Os lábios falam, riem, cantam, beijam
Os braços e pernas parecem ter vida própria

A noite parece não ter fim
A brisa é quente e suave
A lua ilumina o céu, o fogo ilumina os rostos
A alegria ilumina os olhos

Os corações todos entregues ao mais puro prazer
Pulsando e ardendo de paixão pela vida

Esta é a nossa juventude, este é o nosso tempo
Enquanto ele permanecer as noites serão belas
E os dias serão apenas seu reflexo embaçado







quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Cativa




















Você me tem cativa,
Não importa o que aconteça ou quanto tempo passe
Estarei sempre aqui, por você
Sempre esperando uma palavra
Pronta a sorrir a cada olhar seu
Só imaginando como seria... como teria sido
Perco meu tempo revendo suas fotos
Seria tão bom te ter por perto
Me torturando novamente com seu sorriso
Mas temo pelo nosso encontro
Eu sei que ainda me tens, e sempre terá
Mas será que já te tive algum dia?
Será que é só minha esta prisão da qual não quero sair?

Como queria poder decifrar os seus sorrisos...

O tempo vai passar e vou te ver sempre de longe, como agora
Verei seus amores indo e vindo, se multiplicando
Mas o meu continuará único, imutável
E todas as noites antes de dormir, tentarei adivinhar o seu último pensamento
Mesmo sabendo que não estarei nele

quarta-feira, 18 de julho de 2012

O impossível


Aquilo que é intocável, o que é sagrado
Aquilo que é inatingível, impronunciável
O que vai além da imaginação, além dos sonhos
O que não pode ser descrito com palavras, o que não pode ser representado
Que é tão grande, tão perfeito, que não pode ser medido
Que é muito mais do que um ser humano pode sentir
Que foge à nossa compreensão, é muito mais do que podemos entender
Que é muito maior do que todos nós

Maior que a vida, maior que a morte
Maior que o peso da saudade
Maior que o pesar do abandono e que a tristeza da solidão
Maior que o ódio e o rancor
Maior que a distância 
Maior que o vazio 
Maior que o medo

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Hazel Eyes







Olhos castanhos
Não são bem castanhos
Olhos de avelã
De oliva
Olhos de tempestade
Que trazem a tormenta
E levam embora o sossego

Mas pra quê quero este sossego
Que se transforma pouco a pouco em monotonia?
Já me cansei da tranquilidade pálida e sem vida
Dela me refugio naquela cor
Na profundidade fria
Que arde como o fogo

Mas a cor não é bem certa
De dia traz o brilho verde da água
E à noite confunde-se com a escuridão aterradora

Seria apenas um clichê dizer que posso me afogar neles
Se não fossem como a ressaca do mar
Que tudo arrasta e engole
Trazendo somente os restos no dia seguinte

segunda-feira, 18 de junho de 2012

The Bridge




















Não há mais nada pra mim aqui
Sem você nada mais faz sentido
Sem o seu amor nada vale a pena
Pra que quero respirar se não sinto o seu perfume?
Pra que manter os olhos abertos, se não vejo mais a cor dos teus?
Me arrastar pela vida dormente? Inerte?
Pra que quero andar, se não for pra te alcançar?
E me manter de pé, escorado, como um tronco velho e apodrecido?
Podre também estaria o meu coração, que parou de bater no momento em que você me deixou.
Suas palavras afiadas me cortaram em pedaços
E já não há o que ser reconstruído
Sou um fantasma que vaga sem rumo pelo espaço
Já não há o que buscar, já não há o que esperar
Não existe culpa e nem remorso
E mesmo a dor já não é a mesma
Transformou-se num ruído cada vez mais baixo e difuso, porém constante
Uma névoa cobriu meus olhos, o mundo agora é cinzento
Meu rosto congelou-se inexpressivo
Não sinto mais frio, não sinto mais medo




...




Depois de um tempo a névoa começa a se dissipar, o céu está se abrindo
As gaivotas dançam em pares pelo ar
E o mar emite um chiado suave enquanto se desmancha por entre as rochas
Sua cor é clara como o céu
E sua brisa úmida acaricia meu rosto entorpecido
Por um momento o sol surge e me aquece
Cessa o cansaço e toda dor
Me sinto leve para voar...

Os portões dourados se abriram para mim!