sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Song to Hazel Eyes

Você é como um vício
E desde o começo eu sempre soube
Que jamais conseguiria largar

O seu olhar
É como um labirinto
De onde eu nunca quero escapar

E eu te procuro
Então me encontro
Aqui sozinha te esperando chegar

E tudo o que eu quero
É deitar nos seus braços
E nunca mais ter que me levantar

Agora eu estou
Sozinha no meu quarto
Fazendo essa canção pra te embalar

Mas eu não sei
Se um dia nesta vida
Eu te terei aqui pra me escutar



(20/12/2012)

Cantiga

Se essa rua, se essa rua fosse minha
Eu mandava, eu mandava ela brilhar
Mas se fosse, mas se fosse a sua rua
Eu achava um poste pra me pendurar

Ficaria só ali por pouco tempo
Comparado à solidão que já passei
Pra que de manhã me visse da janela
E talvez acreditasse que eu te amei

E aposto que até mesmo o seu cachorro
Choraria muito mais do que você
Ele ao menos sentiria a minha falta
E ficaria triste a me ver morrer

Gostaria de saber o que faria
Ao saber que eu morreria por você
Seu desdém só me traria mais tristeza
Mas eu já não poderia mais saber

E faria, e faria tanto frio
Que meus membros todos iam congelar
Minha rigidez viria antes do tempo
E nem mesmo sangue iria derramar



(06/2013)

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Incômodo

O ar tremula entre os dois
Incômoda é a presença
Os sorrisos são flores cheirando a néctar

Incômodos os pensamentos que se completam
A sincronia, a proximidade
O afeto, o calor trocado ligeiramente

Perturbadores são os olhos incensuráveis
E a insistência na aproximação sutil
Que foge aos mais desatentos

O incômodo é mútuo, recíproco
Perseguidor e fugitivo travam uma batalha lenta e silenciosa
Não contra o outro, mas contra seus próprios desejos

domingo, 9 de junho de 2013

Acorda!

Acorda! Lá está ela, me encarando todos os dias
Me dizendo que pode fazer isso parar
Que o mal-estar pode acabar de uma só vez
E que nem vai doer... chega de chorar
Que vai ser como um abraço
Do jeito que eu gosto, bem apertado
Um último afago pra acabar com o sufoco
Sufocando a dor até ficar sem ar
A dor não vai mais respirar...
Amor... te espero...
Grande seria a minha sorte
Se tudo acabasse como quero

Num abraço ainda mais forte...

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Nanquim

Tem tinta correndo pelas minhas veias, em aceleração frenética causada por um coração à beira do colapso.
A pressão aumenta a cada instante. Sinto que não aguentarei por muito mais tempo...
Os vasos se arrebentarão e a tinta irá sangrar na forma de palavras inflamadas e mal escritas, jorrar em traços agonizantes, rabiscos desordenados e sem sentido...

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Cor

Era uma bela tarde de sol, e eu caminhava sozinho pela praça, depois de um dia duro de trabalho.
O ar estava seco e aquecido pelo sol, mas uma brisa mais fria soprava de vez em quando. Era um dia tranquilo, as pessoas caminhavam devagar, evitando cruzar seus olhares, como sempre...
Então veio uma dor bem maior, uma pontada no meu peito. Não era como um infarto, pois não era músculo nem artéria que me doía... Era uma dor profunda na alma, uma angústia e tristeza infinita que me assomou naquela tarde, no meio da praça...
Senti desaparecer nesse momento toda e qualquer esperança do meu coração...

De repente percebi que o mundo todo havia se tornado cinzento. Entrei em desespero por não conseguir ver mais nenhuma cor. O amarelo dos ipês, o verde da grama, o azul do céu... nada. Procurei a cor por todos os lados naquele lugar, mas tudo havia se transformado em tristes tons de cinza.
Pensei que pudesse ser superficial, pois era como se tudo tivesse sido coberto por fuligem, então quis aprofundar a minha busca. Esmagava as flores, arrancava a casca das árvores, mas por baixo continuava igual, tudo cinza. As pessoas passavam sem me notar, todas cinzentas também. Pensei que pudesse ser apenas um problema de visão, então perguntei à algumas delas: "Qual a cor dessa flor?", e elas respondiam tristemente: "Cinza... por que?"

Caí no chão, desolado. As cores haviam deixado este mundo. Mas eu não conseguia aceitar, ainda não tinha procurado o suficiente pra me convencer...
Deixei de abrir as flores e frutos das árvores, e comecei a fazer o mesmo com os insetos que conseguia capturar. Precisava ver suas entranhas verdes ou amarelas como deveriam ser... Mas era tudo cinzento também.
E eu precisava da cor. Precisava desesperadamente ver a cor. Pensei na sua beleza, no encanto que as cores me traziam... Na serenidade do azul, na alegria do verde, no eletrizante amarelo, no cálido laranja.... Pensei no vermelho! Pensei no fogo do vermelho: vívido, pulsante! O vermelho que sempre foi minha cor preferida.
Eu precisava do vermelho, não podia suportar... Esse mundo cinzento era triste demais...
Com uma pedra, acertei a cabeça de um bêbado esfarrapado que dormia num canto afastado, mas ainda não consegui ver o vermelho. Com um pedaço de sua garrafa quebrada, rasguei-lhe a barriga. As vísceras cinzentas e pretas se espalharam enquanto ele emitia um último gemido surdo...
Impossível! Onde estava o vermelho?

Depois de algum tempo revirando o seu interior com minhas próprias mãos com a ansiedade de um drogado enquanto procura o que tanto deseja
, finalmente o encontrei! Estava ali, tão pequeno que quase não se podia notar: diluído na imensidão de cinza, um pequeno rastro vermelho.
Comecei a remexer desesperadamente o pobre diabo, em busca da fonte daquela ínfima gota de cor, então percebi que aos poucos, apareciam outras... 
Enquanto lacerava a carne do infeliz, o caco de vidro havia feito um pequeno corte em minha mão, e este era o responsável pelas belas manchas escarlates que me enchiam os olhos no meio daquela imensidão cinza...
Mas eu queria mais, eu precisava ver mais! Aumentei o corte, e meus olhos se encheram de lágrimas ao ver o mais belo e vívido tom de vermelho que jamais tinha visto em toda minha vida correndo pelo meu braço...
Eu não podia suportar viver num mundo sem cor, precisava preencher todo aquele mórbido cenário com a cor mais incrível que já havia visto, cuja única fonte era o meu próprio corpo... Depois de algumas apunhaladas o cinza finalmente deu lugar à imensidão rubra... o gramado, as flores, até mesmo o céu me parecia de um vermelho intenso, vivo como o sangue. No final, meu coração se acalmou, e foi quando pude constatar que ele também era vermelho...